domingo, 20 de outubro de 2013

"Felizes esses nos quais paixão e razão vivem em tal harmonia que não se transformam em flauta onde o dedo da sorte toca a nota que escolhe. Me mostra o homem que não é escravo da paixão e eu o conservarei no mais fundo do peito."

Hamlet, de Shakespeare.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Não há verdade.
Não há verdade que sobreviva à boca dos insatisfeitos, à vaidade dos tolos, ao tédio dos infelizes e à visão dos injustiçados. Não há verdade que não seja contaminada pelos encantos da existência tóxica universal.
Se tu és a verdade, meu caro, que morto tu estejas! Pois esta é a parte que lhe cabe neste latifúndio pobre de realidade e rico de entorpecimento.
"Não conheço o parece.
Não é apenas meu manto negro, boa mãe,
Minhas roupas usuais de luto fechado,
Nem os profundos suspiros, a respiração ofegante.
Não, nem o rio de lágrimas que desce de meus olhos,
Ou a expressão abatida de meu rosto,
Junto com todas as formas, vestígios e exibições de dor,
Que podem demonstrar minha verdade. Isso, sim, parece,
São ações que qualquer um pode representar.
O que está dentro de mim dispensa e repudia
Os costumes e galas que imitam a agonia."

Hamlet, de William Shakespeare.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

"Quanto aos meus restos mortais, suplico encarecidamente; não o torturem com choros, rezas ou velas. É apenas a minha matéria e imploro que a deixem degradando-se em paz. A putrefação não é degradante. Se a humanidade permitisse que a natureza tomasse o seu curso, seria o renascimento da matéria. Eu renasceria no vento que passa a murmurar, nas folhas que farfalham, no solo que abriga e alimenta milhares de seres vivos, na água que corre para o mar, nas chuvas que regam os campos, no orvalho que cintila ao luar, nas grandes árvores que abrigam ninhos de passarinhos e que vergam a passagem dos ventos fortes, nos pequenos arbustos que escondem a caça do caçador... Céus! Eu me vingaria se apenas uma de minhas partículas participasse do desabrochar de uma flor ou do canto de um pássaro."

Escrito por Amanda Domingos

sábado, 7 de setembro de 2013

Por esse desgosto que desfaleço, me tornei imparcial.
Por esse desprezo que me envolve, aderi ao caos.
Abdiquei de tudo na esperança de um efeito espelhado.
Tive em troca um delírio amargo, o qual não largo.
Preferia eu ser comprimida por nuvens, do que soterrada pelo que vejo.
Do que viver paralela ao desejo.
   Oh amor, Amor; em plena responsabilidade das consequências eu teria posto teu nome como sagrado e impronunciável em vão. Ah, quantas citações frívolas tive de ouvir sobre ti, tu sabes Amor, que eu correria pelos bares divulgando teu caráter, diria a eles - pobres seres adornados de vaidade - que estavam errados até agora te utilizando como instrumento da cobiça. Sem hesitar, dariam-me um fardo a carregar pro resto de minha vida, o fardo de não ser ouvida por ser estar fora dos padrões de sanidade social. Calar-me-ia porque o tal ser soberano em relação aos demais, não tem ouvidos para o que lhe faz menos ríspido.
   Ah, Amor. Se falo de ti em tom lúgubre, é porque muita falta me faz. E continuarei aos cantos gritando por ti, pra ver se lhe encontro simples e pueril, como quis te mostrar.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

   Sou a fumaça que se dissipa na ventania.
   Sou dotada de extremos, nos quais me permito praticar minha inconstância.
   Sou um amontoado de nervos corrompidos.
   Sou tudo aquilo que não pareço ser.
   Sou a catástrofe de minha própria paz.
   Sou um pouco de tudo, um quase nada.

domingo, 2 de junho de 2013

   Pena tenho eu dos céticos, que não entendem a poesia dos insanos.
   Peço cuidado ao me interpretar, não tenho nada a oferecer exceto minha própria confusão, um amontoado de pensamentos como estrelas, as quais eu não sou capaz de organizar em constelações. Entorpeço minha rotina na tentativa de decifrar o que está por trás de meus olhos.
   Caminho por lugares conturbados na esperança deles ruírem mais do que minha mente rói minha placidez. Gélido se torna até mesmo meu modo de desfilar por antigos bares, onde pareciam existir doses de curar a amargura do caos. Prevalece a sensação sempiterna de se estar andando em círculos, enquanto o tempo de uma volta poderia ser melhor usufruído. Emudeço-me ao som de meu silêncio, onde estagno.

sábado, 1 de junho de 2013

"With no loving in your souls and no money in your coats, you can't say we're satisfied."

Angie, Rolling Stones.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

   Andei por aí levando uma vida sem clamores, desacreditando em amores e cultivando solidão, uma vida impura segundo os cristãos.
   Percebi que há silêncios que são como abraços e há silêncios que nos ensurdecem, adormecia em busca de uma nova perspectiva de orientação.
   Monossilábica rodei por esquinas onde vi meninas que não queriam estar ali, lidei com propostas e mais propostas fracassadas que um dia pareciam poder existir.
   Oscilei entre abundantes esperanças e o desânimo existencial, oscilo ainda.
   Tristemente constatei que não se pode depositar amor demais onde há um vestígio de cobiça.
   Fiz de mim parte do segredo do universo, onde ainda habito.